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domingo, 5 de junho de 2011

CING: Complexo Industrial e Naval do Guarujá

AVES OBSERVADAS NO CING
Garça-azul
Garça-branca-grande
Garcinha
Garça-vaqueira
Socó-dorminhoco
Socozinho
Socó-caranguejeiro
Urubu
Marreca-toucinho
Irerê
Carrapateiro
Caracará
Quiriquiri
Coruja-buraqueira
Saracura-de-mato
Saracura-sanâ
Turuturu
Frango d’água
Jaçanã
Quero-quero
Batuíra-do-bando
Batuiruçu
Maçarico
Perni-longo
COMPLEXO INDUSTRIAL NAVAL DE GUARUJÁ
O CING possui uma triste história: nos idos de 1987, o que se planejava fazer ali era um complexo naval, repleto de marinas, com a desculpa de que aquilo seria um investimento não poluidor. No entanto, as obras de aterro para tal empreendimento destruíram mais de 2 milhões de metros quadrados de exuberantes manguezais, que além de serem abrigo e alimento para uma infinidade de animais, estabilizavam o fluxo de sedimentos vindos dos morros do Icanhema e Pitiú (estes ainda recobertos por mata atlântica).
Localização do Complexo Industrial Naval de Guarujá

VISITAS
Foi em Junho de 2005 quando iniciamos as nossas visitas à região conhecida como CING (Complexo Industrial e Naval do Guarujá). Passando de carro pela rede viária que corta a região, observamos uma vasta área aberta, transformada em pastagem. À direita desta estrada, o que se via era um pequeno remanescente de manguezal. Não pudemos deixar de contemplá-lo com uma certa tristeza...


Originalmente, a área do CING era coberta em praticamente toda sua extensão por manguezais cujo bom desenvolvimento dos bosques indicava uma alta produtividade. Fato que, sem dúvida, refletia numa contribuição significativa para a manutenção dos organismos aquáticos que dão sustentação à produção pesqueira regional e às atividades extrativistas de subsistência da população local.

Área descampada no CING atualmente
utilizada como pastagem

Saindo da Nobara pode se observar um remanescente de manguezal ao lado direito

Enquanto passávamos pela rede viária, víamos como o aterro aos poucos foi sufocando o manguezal, barrando o fluxo das águas e o transporte de sedimento. È tristemente notório como uma grande extensão de manguezal pôde ter simplesmente desaparecido. Fizemos então o contorno em frente á Nobara e atravessando uma área de capim alto e seco, ouvimos um canto diferente. Paramos então o carro na beira da estrada a fim de escutar a provável ave. E eis que pudemos constatar a vocalização de uma jaçanã (Jacana jacana) vindo do outro lado do capinzal. Aquilo nos intrigou muito, pois esta é uma espécie que vive em área alagadas. Como poderia estar vivendo ali, naquelas pastagens estéreis?

Aqueles eram os últimos remanescentes dos manguezais existentes na margem esquerda do Estuário de Santos. Este pode ser considerado o mais trágico caso de impacto ambiental do litoral de São Paulo, e não parece que tenhamos aprendido a lição...
Remanescente de manguezal na margem do Rio do Meio

Embrenhamos-nos em meio ao capinzal na busca pela ave, e afastando o capim, vimos algo que custamos a acreditar: uma larga extensão de água espalhando-se por uma região com cerca do tamanho de um campo de futebol. Aqui e ali, garças-brancas-grandes (Ardea Alba) e garças-brancas-pequenas (Egretta thulla) caminhavam pelas margens, lavadeiras-mascaradas (Fluvicola nengeta) corriam pelo solo encharcado e sua parente próxima, a freirinha (Arundinicola leucocephala) pousava nos juncos.

De repente, um bando de marrecas-toucinho (Anas bahamensis) passou voando em círculos sobre nós, para então pousar suavemente sobre a superfície da água. Contamos 46 marrecas, que se espalharam pela água alimentando-se de algas e plantinhas aquáticas. A marreca-toucinho é uma espécie migratória, que vem da Região Sul passar o inverno por aqui. Foi uma grande satisfação encontrar um bom número dessa espécie naquela área. Em seguida, observamos 8 indivíduos da marreca irerê (Dendrocygna viduata), esta residente na região.
O brejo durante o mês de Junho de 2005
Percebemos então que aquela área era nada mais que um brejo, formado pelo represamento da água na ocasião do aterro dos manguezais. Ali se estabeleceram algumas algas, que servem de alimento a muitas aves. Percebemos isso quando vimos cerca de 22 frangos d´água (Galinulla chloropus) alimentando-se de algas nas partes mais rasas. Vimos então uma avezinha pernalta esquisita, de pescoço branco com uma listra preta acima dos olhos e de bico vermelho. Foi então que uma jaçanã passou voando por cima de nós, indo juntar-se a avezinha, que na verdade era o jovem da espécie. Ele é bem diferente do adulto e chega mesmo a confundir. A jaçanã adulta então vocalizou olhando em nossa direção, como uma firme constatação que fizemos bem em tê-la “seguido”.
Enquanto observávamos uma garça-azul (Egretta caerulea) pescando nas margens lodosas e um bando de asa-branca (Patagioenas picazuro) passava voando sobre nós, um ágil quiriquiri (Falco sparverius) sobrevoando o brejo, à procura de pequenas aves.
Durante o mês de Novembro de 2005 encontramos o brejo praticamente seco. Portanto, aquela água não vinha de um afloramento do lençol freático, e sim da chuva. Agora o que se via era uma área lodosa, com alguns bancos de algas. Mas as aves estavam lá. Além das costumeiras aves aquáticas, vimos três aves pernaltas. Tratava-se do pernilongo (Himantopus melanurus), uma ave pouco comum aqui na Baixada Santista, observada poucas vezes. Pelas margens, corriam bandos de batuíras-de-bando (Charadrius semipalmatus), pequena e simpática ave migratória que vem do Alasca passar o inverno no Brasil. Também vimos bandos de maçaricos-de-pernas-amarelas (Tringa flavipes), outro visitante boreal. Foi muito bom saber que haviam espécies migratórias alimentando-se e descansando ali naquele brejo. Enfim, a vida continuava e não observamos grandes mudanças durante as nossas visitas.

O brejo durante o mês de Junho de 2005

O brejo durante o mês de junho de 2006
No mês de Janeiro de 2006 o que era brejo havia se tornado uma área repleta de taboas e juncos. Onde antes havia água, agora se estabelecera uma vegetação rasteira. Pensamos que as aves aquáticas haviam todas ido embora. Enfim, é a sucessão ecológica. Os brejos são ambientes passageiros e logo se transformam em terra firme. De fato, não vimos mais ali uma quantidade sem fim de garças, maçaricos, marrecas ou batuíras. A região parecia mais silenciosa...
No entanto, não nos demos por contente e pusemos o “play-back” para funcionar. Trata-se da técnica de reproduzir o canto das aves, para que possamos atraí-las. E logo uma avezinha se fez notar, cantando escondida em meio ao capinzal. Era uma saracura-sanã (Pardirallus nigricans). Logo outro indivíduo da mesma espécie veio fazer-lhe dueto.
Tocando o som de outros ralídeos, ou seja, outros parentes da saracura, um turuturu (Porzana albicolis) respondeu prontamente ao play-back de sua voz. Muito legal descobrir este misterioso ralídeo por ali. E antes mesmo que fosse feito o play-back, uma saracura-três-potes iniciou seu canto, na região onde o brejo unia-se com a mata de encosta do morro do Icanhema.
Não províamos de muitos cantos, mas ficamos de voltar para aquela região, pois iremos acompanhar todo o processo de sucessão ecológica do brejo, e ver que aves se sobrepõem por ali, na medida em que o ambiente se transforma.
Afinal, a velha frase já diz que na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. A não ser, é claro que o homem resolva interferir...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICASBRETAS, E. & SIGRIST, T: Desenho Científico de Aves. Anais do V Congresso Brasileiro de Ornitologia, UNICAMP, Campinas, 1996.
CAMARGO, H: Sobre uma pequena coleção de aves de Boracéia e do Varjão do Guaratuba (Estado de São Paulo). Papéis Avulsos do Departamento de Zoologia, SP, 7(11): 143-164, 1946.
DUNNING, J.T: South American Land Birds. A Photographic Aid to Identification. Harrowood Books. Pennsylvania . Newton Square. 364 pp. 1985.
HÖFLING, ELIZABETH-ALMEIDA DE CAMARGO, HÉLIO F: Aves no Campus – Edusp. São Paulo (3ª Edição), 1999.
OLMOS, F & SILVA, R.S. Guará – Ambiente, Flora e Fauna dos manguezais de Santos-Cubatão. 2003. Editora Empresa das Artes. 216p.
PEREIRA, PABLO: Brasileiros Torturados, Galileu, Editora Globo S.A - Pág. 24-33, 2002.
MITCHELL, SOPHIE: Eyewitness Guides, Ponds and Rivers – Dorling Kindersley Ltd. London, 1988.
MOORE, HOWARD R, A:. A complete checklist of te birds of the world. 2. ed. London, Academic Press. 622 p. 1991.
RUSCHI, AUGUSTO: Aves do Brasil – Editora Rios, São Paulo, 1981.

SCHAUENSEE, R.M: A Guide to the Birds of South America. ICBP, 498 p., 1982.



POSTADO POR  Geraldo Andrade..5°  de GEOGRAFIA

OUTRAS AVES
Asa-branca (Patagioenas picazuro), Lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta) Freirinha (Arundinicola leucocephala), Suiriri-cavaleiro (Machetornis rixosus), Bentivi (Pitangus sulphuratus), Tangará-dançarino (Chiroxiphia caudata). Beija-flor-tesouro (Eupetomena macroura), Bico-de-lacre (Estrilda astrild) Pardal (Passer domesticus).

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